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Categoria: Notícias

Presos de Resende Costa produzem tapetes e fabricam blocos para calçamento do município

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Renda gerada com a venda das peças artesanais ajuda no orçamento das famílias, e bloquetes de cimento contribuem com a infraestrutura do município. As atividades representam profissionalização e novas perspectivas de vida aos detentos

Detentos do Presídio de Resende Costa, no Campo das Vertentes, atuam em esquema de revezamento em três frentes de profissionalização e trabalho: tapetes e cortinas de tear, bloquetes de concreto e peças de madeira — móveis e brinquedos. As atividades significam renda, remição de pena e o aprendizado de atividades que podem trazer um futuro diferente, distante de presídios e penitenciárias.

Oitos presos confeccionam cerca de 600 tapetes, cortinas e colchas por semana, o que traz uma renda entre R$ 400 e R$ 500 por semana, para cada um. A compra de insumos, a venda das peças, além do controle e entrega do faturamento para os familiares são feitos pela mãe de um dos presos.

Cada detento tem o seu próprio tear, um equipamento feito de madeira com o qual é possível fazer tecidos e peças de diferentes espessuras, onde fios verticais se entrelaçam com fios horizontais. A técnica é antiga, e historiadores relatam o uso da máquina nas mais diversas culturas e sociedades. Os teares utilizados pelos presos foram fabricados por eles, na marcenaria da unidade prisional.

Para o diretor-geral do Presídio de Resende Costa, Francisco Wagner de Sousa, as três atividades laborais estão repletas de valores importantes como laços familiares, responsabilidade, esperança e cidadania. “Tenho a plena consciência de estarmos empenhados, efetivamente, no processo de ressocialização dos detentos. Os parentes ajudam e recebem um retorno pelo trabalho feito na unidade e, os moradores do município, com a pavimentação de ruas”, enfatiza o diretor-geral.

A produção e a venda de brinquedos e móveis da marcenaria recebem ajuda de uma outra mãe, cujas valores arrecadados também são destinados aos parentes dos presos. São cadeiras, mesas, armários, carrinhos, aviões e outros pequenos brinquedos que têm venda certa na cidade de Resende Costa, conhecida como Cidade do Artesanato, especialmente pela confecção de tapetes, cortinas e colchas.

Memória

Em cada família de Resende Costa existem um artesão e uma máquina de tear, é o que dizem os moradores. Exagero ou não, Anderson Aparecido Resende, 34 anos, construiu em quatro dias uma máquina de tear, a partir das lembranças de sua mãe tecendo peças, para serem vendidas na cidade.

Ele trabalhou por um ano na fábrica de bloquetes e está há dois na marcenaria, mas além dessas atividades sabe confeccionar um tapete de 60 cm x 90 cm em 20 minutos.

Se depender de outro detento, Moisés José da Silva, 28 anos, a arte de tecer vai ser expandida na região. Ele é natural de Coronel Xavier Chaves, distante 30 quilômetros de Resende Costa. “Tenho um projeto de fabricar tapetes, colchas e cortinas com a minha família. Tudo se entrelaça, do mesmo jeito que as linhas no tear. Meus parentes estão animados”, relata o detento.

Móises aprendeu a tecer no presídio e hoje ensina para os novatos na oficina. Ele explica que há serviço para todas as habilidades: enrolar as bolinhas, tecer e amarrar as pontas das peças. As bolinhas são os retalhos de tecidos, comprados em fábricas pela mãe de um dos detentos, que são transformadas em uma espécie de novelo de linha grossa e levadas para o tear.

Cidadania

A fábrica de bloquetes funciona por meio de uma parceria firmada entre o presídio e a Prefeitura de Resende Costa em 2016. Até hoje, foram produzidos cerca de 500 mil bloquetes e mais de 50 ruas receberam pavimentação.

Jonas Leonardo Pinto, servidor da prefeitura e coordenador de produção da fábrica, acompanha as atividades dos presos desde o início da parceria. As máquinas — duas betoneiras e duas bancas vibratórias — são do Executivo Municipal, que fornece ainda o cimento. “Entramos com toda a estrutura e o presídio com a mão de obra. Isto é muito bom para a cidade e os presos. Eles são profissionais dedicados e sempre conseguem atingir as metas”, destaca Jonas.

Atualmente, trabalham oito presos na fábrica, que produzem de 800 a 900 peças por dia. Antes do período da pandemia da covid-19 eram 18 presos, com uma produção de cerca de 1.600 bloquetes. Os presos recebem remição de pena, ou seja, para cada três dias de trabalho é reduzido um na condenação.

Texto: Bernardo Carneiro

Fotos: Divulgação Sejusp